Contra ventos e marés, Trás-os-Montes e Alto Douro luta para resistir ao processo de declínio que tem atingido os seus territórios. Apesar de se registarem progressos pontuais, os diagnósticos mais recentes continuam a assinalar um conjunto de traços negativos: baixa densidade populacional e elevados índices de envelhecimento; baixo PIB per capita; tecido empresarial dominado pela fragilidade e atomização das empresas; baixo investimento em inovação; fracos índices de escolaridade; fraca mobilidade interna e isolamento físico e social das comunidades; aumento do desemprego e da pobreza; e fraco nível de integração do potencial científico e tecnológico nas estruturas económicas e sociais.
O setor terciário da economia tem crescido, mas a agricultura, a pecuária e a floresta continuam a ter um papel importante. Algumas cidades têm afirmado o seu dinamismo, mas domina o espaço rural com uma economia débil e em progressiva desestruturação. O turismo tem crescido, mas apresenta ainda frágil capacidade de retenção das mais-valias, requerendo mais promoção e internacionalização.
Apesar dos amplos recursos naturais, agrícolas e florestais, da riqueza paisagística, cultural e patrimonial, da importância da produção de energias renováveis, do excelente posicionamento ao nível da qualidade ambiental, da proximidade e crescente cooperação cultural e económica com a vizinha Espanha, da presença de instituições de ensino superior, Trás-os-Montes e Alto Douro continua a ter fortes desafios de reforço da sua competitividade e de coesão económica, social e territorial. Apesar da importância fulcral das empresas, as políticas e intervenções públicas continuarão a ser cruciais para inverter as dinâmicas de declínio.
O novo Quadro Comunitário está focado na mobilização e valorização dos ativos e recursos territoriais, na construção de novos modelos de negócio e busca de novos mercados, na criação de competências (através da formação avançada) e de emprego (com atenção especial a públicos e territórios mais afetados pela evolução económica), e na promoção do fechamento (com projetos que completem outros já realizados, por exemplo nas principais redes de infraestruturas e equipamentos) e das economias de rede.
O programa está fortemente orientado para os resultados e dois dos seus objetivos temáticos (Investigação, Tecnologia & Inovação e Competitividade das PME) terão 70% das verbas FEDER e as empresas e as instituições de ensino superior são considerados atores chave, neste último caso com verbas substanciais para bolsas de doutoramento e pós-doutoramento e apoio para a realização de cursos técnicos superiores de caráter profissional.
Por outro lado, a estratégia global de crescimento e desenvolvimento assenta na especialização inteligente, que sublinha a importância da inovação e competitividade, da concentração de recursos em domínios/atividades económicas em que exista ou possa reunir-se massa crítica e nas ligações ao mercado global e capacidade de afirmação internacional.
Este enfoque coloca claros desafios à região interior norte, atendendo aos baixos níveis de capital humano, dificuldade de atração e fixação de recursos qualificados e especializados, fragilidade do tecido empresarial, atomização institucional e fraca densidade relacional, incipiente cooperação interempresarial e entre agentes públicos e privados, falta de ordenamento da oferta de formação profissional, fraca capacidade de inovação e baixo grau de empreendedorismo.
O futuro de Trás-os-Montes e Alto Douro passará, sem dúvida, por um trabalho intenso e exigente, assente numa visão amplamente partilhada e numa governação integrada, diferenciando o território pela qualificação das suas pessoas e pela qualidade de vida dos seus cidadãos e dos seus produtos e serviços.
O futuro estará, certamente, nos recursos que fazem de Trás-os-Montes e Alto Douro um território de excelência e oportunidades - as águas, as rochas e minerais, os produtos agrícolas, florestais e agroalimentares, o ambiente, a paisagem, a cultura e o património -, mas também na exploração de novas atividades e produtos em que a região possa afirmar um posicionamento competitivo, com base na inovação e numa lógica de especialização inteligente.
Um futuro sustentável exigirá, inevitavelmente, aumentar e melhorar as oportunidades de emprego, atrair investimento privado, e integrar o sistema regional de conhecimento e tecnologia e os ativos económicos regionais num ecossistema de inovação capaz de gerar crescimento económico e desenvolvimento.
Nesta lógica, os signatários desta Carta de Compromissos projetam, para o horizonte temporal 2020, a seguinte visão para Trás-os-Montes e Alto Douro:
Uma região feita de territórios diversos e singulares, com uma forte matriz identitária, que se articulam e complementam, que assenta a sua afirmação, atratividade, competitividade e coesão económica e social na qualidade de vida diferenciada e na valorização criativa dos seus produtos endógenos e ofertas turísticas, bem como na identificação e desenvolvimento de novas atividades suscetíveis de consolidar e expandir empresas já existentes, por via da inovação, pelo acolhimento de start-ups e pela atração de investimento externo.
Está subjacente a esta visão a utilização da diversidade e singularidade dos territórios como argumento potenciador da valorização conjunta da região, nos planos nacional e internacional, e uma clara aposta na investigação, tecnologia e inovação.
Do ponto de vista estratégico, dadas as muitas caraterísticas e potencialidades comuns aos três territórios, as CIM do Douro, do Alto Tâmega e das Terras de Trás-os-Montes apresentam uma consonância, consubstanciada na definição de eixos de prioritários de ação relativos ao desenvolvimento rural (identidade/cultura, agricultura/pecuária/florestas, agroalimentar, produtos endógenos, inovação/competitividade/coesão), ao ambiente (valores naturais e paisagísticos, recursos energéticos/energias renováveis) e ao turismo (património cultural, natural e paisagístico, investimento, redes, promoção e visibilidade).
Importa, para complementar e reforçar as ações previstas em cada Plano Estratégico, desenvolver um programa integrado e transversal de Desenvolvimento de Trás-os-Montes e Alto Douro, que responda aos desafios comuns às três Comunidades Intermunicipais e que permita construir um território à medida da visão acima definida e das necessidades e valor das suas gentes e do país.
Este programa deverá, não só valorizar os setores tradicionais da economia (produtos regionais de qualidade, vinho, energias renováveis, termalismo, turismo, etc.), mas também:
Tal programa deverá contemplar um conjunto de vertentes, bem alinhadas com os objetivos do Acordo de Parceria Portugal 2020 e com os diferentes Programas Operacionais (Temáticos e Regional), a desenvolver no plano técnico, contemplando objetivos, ações, financiamentos e um calendário preciso de realização.
O desenvolvimento deste programa assentará numa perspetiva da inovação colaborativa, envolvendo empresas, instituições de ensino superior, autarquias e utilizadores, fomentando um processo de inovação aberto e equilibrado entre as diferentes perspetivas.
As instituições signatárias comprometem-se:
Estes compromissos exigem, como contrapartida, que o Governo acredite na região e nos seus agentes e se comprometa a investir e apoiar um programa desta natureza, sendo vital o envolvimento da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional, enquanto organismo que zela pelo desenvolvimento integrado e sustentável do Norte de Portugal, contribuindo para a competitividade e coesão do território nacional.
Trás-os-Montes e Alto Douro, 12 de julho de 2014
CIM do Alto Tâmega (CIMAT)
António Cândido Monteiro Cabeleira
CIM do Douro (CIMD)
Francisco Manuel Lopes
CIM Terras de Trás-os-Montes (CIMTTM)
Américo Jaime Afonso Pereira
Instituto Politécnico de Viseu /Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Lamego (IPV/ESTGL)
Fernando Lopes Rodrigues Sebastião
Instituto Politécnico de Bragança (IPB)
João Alberto Sobrinho Teixeira
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD)
António Augusto Fontainhas Fernandes
Associação Empresarial do Alto Tâmega (ACISAT)
João Miranda Rua
Associação Empresarial do Distrito de Bragança (NERBA)
João Paulo Reis Rosa Carlão
Associação Empresarial do Distrito de Vila Real (NERVIR)
Luís Manuel Tão de Sousa Barros